terça-feira, 27 de abril de 2010

A batalha inglória do dinossauro


O uruguaio Julio Mancebo é um dos poucos remanescentes do célebre Ateliê de Arte Construtivista de Joaquín Torres García. Aos 76 anos, ele nunca havia exposto no Brasil – até trazer ao país a mostra de pouco mais de 20 telas que esteve primeiro em Brasília e que permanece até sexta-feira na Agência de Leilões e Espaço Cultural Porto Alegre (Câncio Gomes, 661).

O bigodão e os longos cabelos brancos apresentam um homem engajado em projetos políticos, que para se definir usa expressões como “anarquista radical” e “anticonservador ao extremo”, mas que defende intransigentemente a pintura e se posiciona como crítico das “novas” linguagens artísticas.

– Só o que se apresenta como novo seduz – disse, quando visitou Porto Alegre para a abertura da exposição. – O sistema das artes cada vez mais ignora a pintura, ao contrário de performances e instalações. No Uruguai, a escola Torres García é a grande referência, mas quem passou por ela e se mantém fiel a seus princípios é perseguido.

Mancebo se sente à vontade na cidade que questiona a presença da arte contemporânea nos espaços públicos – mesmo que não esteja a par da polêmica desencadeada por Voltaire Schilling e levada adiante com o projeto de lei do vereador tradicionalista Bernardino Vendruscolo, que quer que a arte “não fira o bem-estar estético da população”.

– Tem isso aqui, é? – surpreende-se. – Pare­ceu-me que Porto Alegre lida tão bem com a arte. A sede da Fundação Iberê Camargo é algo que só se vê semelhante no Primeiro Mundo.

Foi na Capital que Mancebo reviu o fotógrafo Guillermo Rallo. Ambos estiveram juntos na prisão por sete anos, na década de 1970, após aderirem à luta armada e serem detidos pelos militares uruguaios. Depois de soltos, Rallo veio ao Brasil e Mancebo foi para Estocolmo (Suécia), onde mantém um ateliê – há outro em Montevidéu. A amizade, porém, persiste: foi na casa de Rallo que Mancebo se hospedou e recebeu a equipe de ZH.

Sua vinda ao Brasil se deveu sobretudo ao trabalho de Ricardo Orsí, coordenador da Casa da Memória da Arte Brasileira, de Brasília. Juntamente com os uruguaios José da Cruz e Juan Fló, ele editou o novíssimo Mancebo, livro que reproduz seus trabalhos e conta toda a trajetória do artista – o que inclui sua formação com Torres García.

– Os alunos do ateliê nem sempre conviviam diretamente com o mestre – conta. – Mesmo que tenha entrado lá com 11 anos (em 1944), estive com Don Joaquín durante pouco tempo (Torres García morreu em 1949). A lembrança que tenho dele é a de alguém muito franzino, que parecia estar sempre encolhido, invariavelmente de terno e gravata, inclusive ao pintar, mas que tinha olhos enormes, que quando te miravam o faziam com tal intensidade que te deixavam impressionado.

Ainda que Mancebo, o livro, divida a produção do pintor em períodos de características diferentes entre si, ele próprio afirma que a escola construtivista, com a qual tomou contato há seis décadas, segue sendo a sua principal referência.

– Sou coerente – diz. – O que me motiva, em essência, são sempre as mesmas questões, não importa se estou em Estocolmo ou Montevidéu. Está tudo na minha cabeça, não ao meu redor.



VENHAM CONFERIR OS ÚLTIMOS DIAS DA EXPOSIÇÃO!



Fonte: Zero Hora

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