sexta-feira, 18 de junho de 2010

Casarão Azul sai de cena


Interessados podem visitar o local hoje, para ver de perto os objetos que serão leiloados amanhã

Tradicional antiquário da Capital, o Casarão Azul Antiguidades, no bairro Rio Branco, está fechando as portas e vai leiloar cerca de 200 objetos, entre eles alguns que fazem parte da história do Estado. São móveis, quadros e lustres pertencentes ao coronel reformado da Brigada Militar (BM) Emílio Neme, subchefe da Casa Militar e braço direito do ex-governador Leonel Brizola, e que participou da Campanha da Legalidade, em 1961.

Neme, 84 anos, abriu o antiquário em 1966, após ser preso cinco vezes e expulso da BM, por não apoiar o regime militar que derrubou João Goulart em 64. Dividia o tempo entre a loja e as articulações políticas. Durante o período em que Brizola se exilou no Uruguai, visitou o amigo mais de 50 vezes. Com o tempo, deixou a loja aos cuidados da mulher, Gessy, e do filho, Sérgio. O ingresso no mundo das antiguidades teve a ajuda do “comandante”, como chama o ex-governador.

– Eu sempre fui apaixonado. E, como ia muito ao Uruguai, e lá tudo é antiguidade, era mais fácil. O Brizola ficava sabendo das famílias que queriam vender e me apresentava a elas. Era bem mais em conta, não tinha atravessador – lembra, mostrando uma caneca de vidro, presente comprado pelo amigo no país vizinho.

A loja, que desde 1985 estava em uma casa na esquina das ruas Miguel Tostes e Casemiro de Abreu, não funciona desde janeiro. A família decidiu sair do ramo após quase cinco décadas.

– Eu trabalho com isso há 30 anos, aprendi a gostar. A gente sente um aperto, mas fazer o quê? Vou continuar comprando antiguidades para mim – diz Sérgio, que planeja um novo leilão para as peças menores que restaram do acervo, ainda sem data.

De acordo com o leiloeiro Daniel Chaieb, o antiquário era o mais antigo em funcionamento no Estado:

– Quem é do meio sente. Há uma escrivaninha que, se não me engano, é igual a uma que tem no Palácio Piratini.

Entre os artigos, estão uma mesa francesa, folhada a ouro, com tampo em mármore de Carrara, um sofá italiano com incrustações em marfim, do século 18, e a escrivaninha francesa com tampo de couro, estilo império, que era utilizada pelo coronel.

Em meio às coleções de chaleiras e pratos que tna casa em que mora, no bairro Cristal, Neme cita um dos motivos que fizeram a loja prosperar:

– Sempre teve muita gente comprando comigo lá. Na verdade, ia muito político comprar para me agradar também.

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